Por Felippe Ferro

Na semana passada, o GECEF contou com a exposição inédita de um convidado internacional: Pedro Servent, da Universidade de Córdoba, na Argentina.

Pedro compartilhou visões pessoais em geral sobre o futebol na Argentina e discorreu sobre a trajetória e os bastidores da seleção do país nas Copas do Mundo, principalmente após o golpe militar de 1976, marco de uma profissionalização do futebol no país e de uma política mais voltada ao esporte, bem como contou as dificuldades encontradas pelo futebol no país, assunto intimamente ligado à política e à televisão e comandado pelo presidente da AFA (Asociación del Fútbol Argentino) Julio Grondona, há 21 anos no cargo.

No segundo título, no México em 1986, a seleção comandada por Carlos Bilardo tinha um estilo de jogo totalmente diferente ao de Menotti: o jogo era mais estudado, com mais marcação e preocupação tática, fazendo oposição ao estilo de jogo livre e ofensivo de Menotti. Naquele ano, Maradona, em grande fase, conduziu o time à conquista do bi. Internacionalmente, o futebol argentino começou a ser notado após 1978, quando o país sediou e venceu a Copa do Mundo, com a seleção chefiada por César Luis Menotti. Antes disso, conforme Pedro, havia uma separação muito grande entre Buenos Aires e o restante do país, em que eram formadas praticamente duas seleções: uma composta por jogadores da capital e a outra pelo resto do país.

Para 1990 na Itália, Bilardo pareceu levar uma “seleção de amigos de Maradona”, deixando bons jogadores de fora da Copa. Mesmo assim, a Argentina de Maradona, Caniggia e Goycochea foi até a final, quando foi derrotada pela Alemanha. Uma curiosidade: no jogo semifinal contra os donos da casa, realizado em Nápoles, muitos torcedores pareciam torcer pelo craque Maradon
a, ídolo do Napoli, clube local, deixando de lado a própria Azzurra para venerar Don Diego.


Após isso se sucederam grandes decepções, principalmente em 1994 e 2002. Pedro afirmou que “a Argentina provavelmente venceria a Copa de 94 com ou sem Maradona, mas não com ele saindo no meio do torneio” (ele foi pego no exame antidoping e teve que abandonar o mundial após a 1ª fase). Sem Maradona, nem mesmo os astros Redondo, Caniggia e Batistuta conseguiram parar a Romênia de Hagi nas oitavas de final. Caía a grande seleção de Alfio Basile. Um dos episódios mais tristes das Copas para os argentinos, segundo Pedro Servent.


Em 2002, uma seleção fantástica. Comandada por Marcelo Bielsa, os hermanos chegaram como favoritos após bela campanha nas eliminatórias. Composta por grandes jogadores como Sorín, Zanetti, Batistuta, Crespo, Verón e Ortega, a seleção tinha tudo para uma grande campanha. Mas, pela primeira vez na história, ficou fora na 1ª fase após apenas 4 pontos conquistados, decepcionando sua fanática torcida. Mesmo assim, “Loco’’ Bielsa foi mantido e se recuperou com a inédita conquista do ouro olímpico em 2004, mas renunciou ao cargo no dia seguinte, pegando todos de surpresa.


Deixando um pouco de lado a Copa do Mundo, Pedro tocou bastante no nome de Julio Grondona, presidente da AFA. “Ele manda em tudo no futebol argentino. Para nós, parece que tudo passa, menos Grondona”, afirma. Desde 1979 no cargo, o presidente sempre esteve presente em episódios polêmicos e tudo que acontece no futebol do país é centralizado em sua figura.


Grondona chegou a fechar os direitos de transmissão do futebol em TV aberta, concentrando nas mãos da TyC, única empresa que detinha os direitos sobre o futebol. “Não havia sequer um gol mostrado nos outros canais de quinta-feira até o domingo, apenas na segunda-feira”, afirma Pedro. O ex-presidente Néstor Kirchner foi quem conseguiu acabar com essa exclusividade, colocando o futebol e a televisão como bens públicos e abertos a toda a população. Mesmo assim, Grondona permaneceu lá.

Podemos citar outras interferências do presidente da AFA como o fato de Carlos Bianchi, técnico responsável por grandes façanhas e títulos com o Vélez Sarsfield e o Boca Juniors, nunca ter sido chamado para treinar a seleção por não se dar bem com Grondona. Nem mesmo o clamor nacional por Bianchi na seleção adiantou.

O presidente também já fez manobras no regulamento do campeonato nacional para evitar o rebaixamento dos dois principais clubes do país: River Plate e Boca Juniors, além de ser suspeito de interferir na convocação do técnico Sérgio Batista para a Copa América de 2011, deixando de fora Carlos Tévez, supostamente por ter apoiado o treinador Diego Maradona, que se desentendeu com Grondona após a Copa de 2010.

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Por Felippe Ferro

Após duas tentativas sem sucesso de sediar os Jogos Olímpicos (2004 e 2012), finalmente o Rio de Janeiro bateu a concorrência de Chicago, Tóquio e Madri e garantiu esse direito, se tornando a primeira cidade sul-americana a receber a maior e mais tradicional competição esportiva do planeta. O anúncio, realizado em Copenhague, na Dinamarca, no dia 2 de outubro de 2009, repercutiu de diferentes formas ao redor do globo.


No dia 29 de abril, o Prof. Dr. Zeca Marques trouxe para o GECEF um estudo a respeito de como os principais jornais brasileiros, norte-americanos, japoneses e espanhóis (veículos dos países envolvidos na disputa), além de alguns outros jornais menores, tanto brasileiros quanto do exterior, reproduziram em seu discurso verbal e visual a escolha do Rio como cidade-sede dos jogos de 2016.


Começando pelos primeiros eliminados: os norte-americanos. Verificou-se uma nítida diferença entre jornais de Chicago e os de outras localidades do país. O Chicago Sun Times trouxe a mensagem “Blame it on Rio” (A culpa é do Rio), com uma imagem de um cidadão local esfregando os olhos contendo suas lágrimas, foto que ocupa todo o espaço da capa do jornal. Já o Chicago Tribune mostra a decepção dos cidadãos da cidade com a eliminação logo na primeira fase. O jornal traz a mensagem “Flame OUT” (Chama apagada), fazendo menção à tocha olímpica, símbolo dos jogos.

Em detrimento, os jornais The Washington Post e The New York Times, por não serem da cidade candidata, preferiram mostrar a festa dos cariocas, com imagens parecidas. Eles dialogaram de forma diferente com seus públicos: os periódicos de Chicago, por terem menor alcance, buscaram abordar o sentimento de tristeza do cidadão local, diferentemente dos outros jornais, com maior abrangência, de penetração mundial, exibindo os vencedores.

Tóquio foi a segunda cidade eliminada. Foram analisados dois jornais japoneses que são veiculados em inglês, para o público internacional: o The Asahi Shimbun e o The Japan Times. Enquanto o primeiro não estampou nada em sua capa, o segundo trouxe uma imagem recortada com fotos das quatro cidades candidatas. É válido observar que a imagem do Rio é a única que mostra uma paisagem natural, da praia, em detrimento da riqueza tecnológica de Chicago e Madri, por exemplo, representando o imaginário internacional sobre o Brasil, símbolo de um país tropical, com muito sol e praia exuberante, mas ainda fraco economicamente.

Na última rodada, Madri caiu e o Rio conquistou o direito de sediar os jogos. Os periódicos espanhóis El País e La Vanguardia trouxeram a mesma imagem: o então presidente Lula cumprimentando o premiê espanhol José Luiz Zapatero. Também fizeram menção ao fracasso de Obama com Chicago, abordando uma questão geopolítica. Já o Público traz a imagem da ficha em branco com a frase Rio de Janeiro 2016 em um fundo preto, afirmando que “Madri caiu do Olimpo”, também fazendo menção à Lula na linha fina.

Os jornais paulistas Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo trouxeram manchetes praticamente idênticas: “Olimpíadas de 2016 será no Rio” e “Olimpíadas de 2016 é do Rio”, respectivamente, mostrando fotos de comemoração dos cariocas em Copacabana, bem como a comemoração dos representantes da candidatura brasileira na Dinamarca.

O carioca O Globo traz uma abordagem diferente: coloca a última letra “O” da palavra Globo como um dos cinco anéis olímpicos e lança desafios para a cidade no que tange à infraestrutura. A manchete, com um tom crítico, diz: “2016, o ano que já começou” e, abaixo da imagem com a festa da população, continua: “Agora só faltam 7 para: fazer uma estação de metrô por ano, duplicar as vagas da rede hoteleira”, entre outros.

Já o Correio Braziliense, da capital federal, inova colocando a imagem do Cristo Redentor e realiza uma intertextualidade com a obra O Senhor dos Anéis, trazendo a manchete “Nosso Senhor dos Anéis”, colocando os anéis olímpicos preenchidos com figuras importantes da candidatura e a festa popular dos brasileiros.

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Por Felippe Ferro

No segundo encontro de 2011, em 15 de abril, o GECEF contou com uma exposição de Sérgio Bruno Trivelato, que compartilhou sua experiência e contato com o universo esportivo de um país muito distante e com uma cultura geral consideravelmente diferente do que é de nosso costume: a Índia.

Para ele, falar em esporte no país é falar quase que inteiramente em Críquete, esporte pouco popular e com baixo índice de prática aqui no Brasil. Tal modalidade, que surgiu na Inglaterra no século XVI e chegou na Índia por meio da colonização britânica, consiste, basicamente, num jogo de taco e bola em que o vencedor é o time que conseguir mais corridas (runs). As partidas são compostas em dois tempos, em uma tarde ou noite, e cada equipe é composta por 11 jogadores. É dividida em "entradas" (innings), quando um time está na posição de rebater, e o outro está na situação de arremesso (bowls). O esporte é semelhante ao beisebol, guardadas as devidas diferenciações.

Em geral, exceto pelo Críquete, há pouca prática e apreço pelo esporte na cultura atual indiana. Hóquei de Grama e, ainda abaixo, o futebol, são exemplos de esportes praticados em menor escala no país.

Sobre a cobertura esportiva da mídia indiana, Sérgio afirma que “Nas páginas esportivas dos 2 principais diários nacionais (Indhustan Times e Times of India) não há cadernos esportivos. O esporte aparece no final do primeiro caderno, ou dependendo da disponibilidade, no meio do segundo caderno. Enquanto estive por lá (6 a 20 de março de 2011), a distribuição das matérias nos jornais era mais ou menos assim: em cinco páginas, quatro era sobre Críquete e a restante abarcava Futebol Inglês, Tênis e outros temas locais, mas muito mal cobertos. Na cobertura do Críquete destaque sempre para o time nacional (que terminou como campeão da Copa do Mundo de 2011) e informações sobre os outros times com repórteres, fotos e gráficos.”

Sérgio diz que no país o esporte é, de certa forma, desvinculado de certos costumes e valores ocidentais da atualidade, como a competição e a publicidade, voltando-se mais para o esporte visto como distração pessoal e espiritual, apesar do crescente processo de “ocidentalização” em que o país está sendo submetido. Para se ter uma ideia, foi muito difícil para Sérgio encontrar uma camisa oficial da seleção nacional de Críquete, demonstrando como o povo não tem costume de adquirir e usar itens esportivos e a diferença em relação ao esporte no mundo ocidental.

Além da questão esportiva, também foram discutidos assuntos sociais indianos, como o sistema de castas, a religião, a receptividade do povo, etc, já que, como vimos, o esporte não ocupa os principais gostos dos indianos, especialmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros.

Venha fazer parte do GECEF! O grupo se reúne quinzenalmente às sextas-feiras, às 17h, na sala 69 do campus de Bauru da Unesp.

Longa-metragem aborda o sonho de milhares de jovens brasileiros: ser jogador de futebol

Por Felippe Ferro

Foi dada a largada! Os trabalhos e as discussões do GECEF voltaram com tudo em 2011!

Para iniciar o ano, no dia 1º de Abril, o Profº Drº Marcos Américo (Tuca) apresentou seu estudo sobre o filme “Subterrâneos do Futebol”, dirigido, em 1964, pelo cineasta brasileiro Maurício Capovilla, que foi um dos quatro longas-metragens exibidos durante a compilação de quatro produções cinematográficas chamada de “Brasil Verdade”.

A obra, considerada um exemplo do "Cinema Verdade", exibe cenas reais de treinos, bastidores e partidas de futebol do passado, além de tratar do sonho de ascensão de jovens que têm como objetivo se tornar um astro do futebol. Sua estrutura se apresenta da seguinte forma: são exibidas cenas de jogos realizados em periferias de grandes cidades (veja imagem abaixo) em que muitos lutam para se tornar um ídolo do futebol, bem como são retirados como exemplo três jogadores negros do futebol brasileiro. O iniciante “Feijão”, que atuava nos juvenis do Palmeiras, tinha feito há dois anos antes a figura de Pelé no filme “O Rei Pelé”, de Carlos Hugo Christensen; o próprio Pelé, ícone máximo da história do esporte; e Zózimo Calazans, bicampeão do mundo com a seleção e que cai em decadência devido a uma acusação de suborno.

A grande mensagem da obra gira em torno da frase que aparece em suas cenas finais: “Quem ganha com tudo isso?”. As imagens e as ideias apresentadas sobre a luta frustrada dos jogadores em tentar ser como Pelé evidencia como “o jogador é um operário, uma mercadoria, sem vida pessoal, sem tempo para a família, um explorado, apesar do alto salário que alguns deles recebem. [...] Na realidade o jogador é um operário de vida curta [...] Uma mercadoria facilmente perecível. Seu valor é estabelecido pelos interesses dos clubes, dos seus dirigentes” (ORICCHIO, 2006, p.121).

Além disso, o torcedor se apresenta como alienado, como simples freqüentador e financiador das práticas esportivas, que vive em condições precárias e enxerga no futebol uma válvula de escape de seus problemas do dia-a-dia sofrido.

A cena final chama a atenção: um torcedor do Santos comemorando de forma eufórica o título de 1964. Nele, segundo o mesmo Oricchio, está presente a própria essência do futebol que, apesar de poder ser um fator de exploração, transcende as questões de comportamento social, conseguindo captar, na cena, a magia do jogo.

O GECEF, em 2011, se reúne quinzenalmente às sextas-feiras, às 17h, na sala 69 da Unesp Bauru. Participe!

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